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Lidando com a PESSOA TÓXICA NARCISISTA: A mente colonizada

Atualizado: 15 de jun. de 2023


A toxicidade tem vários matizes. Irei falar neste artigo sobre um tipo específico de pessoa tóxica, a pessoa narcisista ou a pessoa que tem a tendência maior ao controle, manipulação e jogos de poder.


O abuso por parte da pessoa narcisista pode ocorrer quando o agressor busca controlar e manipular a vítima através da exploração de suas vulnerabilidades emocionais e psicológicas podendo até ter controle real e concreto sobre sua vida ou aspectos dela.


Para lidar com esse tipo de situação, é fundamental compreender as características desse tipo de relação, as características do perpetrador e também as características de quem sofre o abuso, seja el@ um cônjuge, família ou amigo.


O relacionamento em que se é completamente preenchido pela fantasia do outro, é um relacionamento tóxico


É importante ressaltar que o termo narcisismo ou narcisista tem sido usado informalmente na atualidade na busca de entendimento de um tipo de relacionamento muito camaleônico.


É um relacionamento que acaba sendo um jogo de espelhos e pode levar à graves duvidas sobre o que faz bem e o que faz mal. Os diagnósticos de transtorno de personalidade estão reservados aos médicos psiquiatras.

A mente colonizada

Vivendo um relacionamento tóxico: ser invadido pelo conteúdo psíquico massivo do outro.

Todos os nossos relacionamentos são co-idealizados, o que quer dizer que criamos juntos a idéia de "nós", de "você" e de "eu": quem somos juntos, quem é você pra mim e quem eu sou pra você.


Nossa identidade enquanto dupla ou grupo é um construto que fazemos a 4 ou mais mãos, de uma forma mais ou menos democrática.


A diferença entre um relacionamento autêntico, natural e a relação tóxica com uma pessoa narcisista é que a co-idealização, ou então, a idéia que vai se construindo sobre o "nós dois", "todos nós", "eu" e "você" é uma idéia fixa e rígida, que não tem maleabilidade para ser dialogada ou construída de forma mais ou menos democrática.


Eu sou x, você é y e não tem mais conversa. Eu sou bom e você é o ruim, eu sou o esperto e você é o incapaz, eu sou o doente e você é o cuidador, e assim por diante.


Estar em um relacionamento com uma pessoa narcisista é viver uma co-idealização maciça e intransponível. Não se admite nenhum tipo de transformação, novas formas de pensamento e de ver o outro, não se admite aprendizagem.


Nesse tipo de relacionamento tóxico é por reforço negativo e positivo, ameaças, manipulação que a pessoa que se relaciona com o narcisista vive uma fantasia compartilhada que não muda, uma realidade alternativa que é em boa parte imposta e pré-definida, onde muitas vezes o lugar a ser ocupado não é um lugar de valor e dignidade.


Nesse tipo de relação uma pessoa é a superior, a outra é subjugada. É uma brincadeira em que o parceiro tóxico impede o desenvolvimento do outro.


Este relacionamento tóxico é caracterizado pela vivência de uma "brincadeira" de faz de conta bem convincente. No fundo nada disso é real. Os integrantes podem se acostumar com essa narrativa, e permanecer nela por muito tempo.


Conviver com pessoas narcisistas pode levar à exasperação de não ser compreendido, as tentativas de resolução de algum problema são sempre infrutíferas e há sempre uma sensação de estar maluco.


As pessoas suscetíveis a relacionamentos tóxicos podem ser pessoas que tendem ao comportamento afável, não confrontativo, permissivo, e se esforçam por manter a estabilidade e a ordem. Pode haver também uma tendência a codependência.




Como a mente de alguém é colonizada pelo narcisista


Como o relacionamento abusivo acontece

O abuso narcisista pode ter um efeito profundo e duradouro na psique da pessoa que o recebe. Isso vai depender do lugar que a pessoa narcisista ocupa na vida de quem sofre o abuso, do tempo que ela foi exposta à este comportamento e da estrutura emocional da pessoa que é abusada.


Este tipo de relacionamento tóxico afeta o desenvolvimento de todos os envolvidos.

A pessoa narcisista tem a tendência de buscar colonizar o pensamento de quem participa de seu meio e moldar as percepções da realidade destas pessoas, e essa busca em grande parte é inconsciente.


Esse processo ocorre de forma gradual e sutil através de mecanismos como:

  1. Idealização e desvalorização: No início do relacionamento, o abusador pode se mostrar extremamente atencioso e afetivo, criando uma imagem idealizada de si mesmo e da relação. No entanto, essa fase é seguida por períodos de desvalorização, nos quais o parceiro passa a criticar e menosprezar a vítima de forma implacável.

  2. Reforço intermitente: O agressor alterna entre momentos de afeto e violência emocional, mantendo a pessoa que sofre o abuso em um estado de constante ansiedade e incerteza. Esse comportamento faz com que a pessoa que sofre o abuso se sinta dependente do parceiro e acredite que é responsável pela tratativa ruim que recebe.

  3. Isolamento social e emocional: O parceiro tóxico busca isolar a vítima de seu círculo de apoio, dificultando sua capacidade de buscar ajuda ou perceber a realidade do abuso.

  4. Distorção da realidade: Através do gaslighting e outros tipos de manipulação, o agressor faz com que a vítima duvide de sua própria percepção e memória, tornando-se cada vez mais dependente do parceiro para determinar o que é verdadeiro e falso.

  5. Deflexão e negação: Ao perceber que dados concretos da realidade vão tomando forma e sendo mais possíveis a pessoa narcisista costuma defletir, ou então, mudar o curso da narrativa para que se adeque mais ao seu próprio desejo. Ou então simplesmente negar, a pessoa narcisista é incapaz de pedir desculpas.

  6. Imposição de narrativa: A pessoa narcisista irá dizer o que você sente ou não sente, o que você pensa ou não pensa, o que você fez e o que não fez, quem você é e quem você não é. E isso tudo sem ter dados reais e concretos. Não há perguntas, apenas afirmações. Desse modo a pessoa narcisista vincula o outro na sua própria visão de realidade parcial.

  7. Reformulação: Diante de uma crítica ou acusação a pessoa narcisista tende a reformular o cenário descrito pelo seu crítico o transformando em um no qual não há implicação nenhuma à ele mesmo.

Sinais de um relacionamento tóxico com uma pessoa narcisista

Principais sinais de um relacionamento tóxico com um narcisista

"Ele não me batia mas deixou cicatrizes", "Argumentar com elas me faz sentir fisicamente mal", "Ele tratava a minha capacidade de amar como se fosse uma coisa repugnante", "Até hoje eu não tenho certeza de quem eu sou".

Estas são falas comuns de quem conviveu, convive ou tem um relacionamento amoroso com uma pessoa narcisista. É importante identificar sinais de alerta em um relacionamento, pois nem sempre eles são tão óbvios quanto se imagina.

A toxicidade pode ser interpretada como um algo esperado ou até mesmo ser relevada. Alguns dos principais indícios de uma relação abusiva incluem:

  1. Comportamento possessivo enrustido: O parceiro tenta controlar de forma insidiosa ou disfarçada quase todos os aspectos da vida do parceiro, incluindo suas amizades, narrativas de acontecimentos, atividades e até quem o parceiro é.

  2. Desvalorização e humilhação: O agressor frequentemente faz comentários ofensivos e degradantes, buscando minar a autoestima e a confiança da vítima.

  3. Manipulação emocional: O parceiro narcisista utiliza táticas de manipulação, como chantagem emocional e gaslighting, para fazer a vítima duvidar de sua própria percepção e realidade.

  4. Ameaças e intimidação: Aqui as ameaças são mais psicológicas do que nos casos de violência doméstica. A vítima pode ser ameaçada, direta ou indiretamente, da perda do seu valor e da retirada do afeto/amor do outro.

  5. Negligência emocional: O parceiro narcisista pode se mostrar indiferente ou insensível às necessidades e sentimentos da vítima, reforçando sua sensação de desamparo e isolamento.

Malandro é malandro, mané é mané

Me apoio em alguns estudiosos que sugerem que a sociedade atual está experimentando um aumento geral nos traços narcisistas para explicar o aumento dos casos de relações difíceis que hoje se encontram no meu consultório.

A cultura narcisista

Estes estudiosos dizem que isso pode ser atribuído a uma combinação de fatores, como a ênfase na competição, a busca incessante pela perfeição e a cultura do consumo. Se o narcisismo se torna mais prevalente na sociedade em geral, é provável que também seja observado nos relacionamentos.

Nós mesmos aqui no Brasil fomos construindo a cultura do malandro e da malandragem, talvez glamourizando um comportamento "levemente antisocial(?)".


Essa cultura acaba reforçando relações desiguais onde não há qualquer tipo de responsabilidade diante das pessoas que são lesadas e a culpa ainda pode recair para o lado da pessoa que sofreu o abuso.

Como lidar com um relacionamento abusivo com uma pessoa narcisista


Como lidar com um relacionamento tóxico narcisista

Para enfrentar um relacionamento tóxico e superar o abuso narcisista, é fundamental adotar estratégias que fortaleçam a autoestima e a capacidade de autoafirmação da vítima. Algumas dessas estratégias incluem:

  1. Reconhecer que um relacionamento não é pra ser tão difícil assim: Sim, amar pode eventualmente doer. Viver pode fazer doer. É o preço que se paga por amadurecer, se desenvolver e buscar felicidade. Mas há dores que são supérfluas. Podem até parecer necessárias, mas vale se perguntar se o são.

  2. Recuperar o contato com a realidade: Comece o processo de reconexão com a própria experiência subjetiva e com o mundo ao redor.

  3. Construir um espaço próprio: Isso significa criar um espaço interno seguro e autônomo dentro de si mesmo. É importante desenvolver uma consciência e uma autonomia pessoal, encontrando uma voz própria e experimentar uma sensação de integridade.

  4. Buscar apoio: A experiência de ter uma testemunha pode ser uma grande virada. Ser validado pelos seus sentimentos, percepções e pensamentos é algo poderoso na recuperação de si mesmo.

A importância da rebeldia como antídoto

Quebrar o ciclo da toxicidade

A rebeldia pode ser uma ferramenta poderosa no processo de recuperação de um relacionamento abusivo.


Ao se rebelar contra o estabelecido, toma um impulso e afirma sua autonomia. A rebeldia não é relegada apenas à adolescentes difíceis, ela pode ser sinônimo de coragem.

  1. No pensamento: É permitido pensar por si próprio.

  2. Na emoção: Abandone suas esperanças, deixe o que não dá certo não dar certo, seja forte para viver a experiência de solitude.

  3. Na concretude: Encontre soluções individualmente para a sua dor. Construa seu próprio espaço, seja ele físico ou mental, e o preencha com o que é seu.

  4. Use o seu "estômago" para digerir: Quando terceirizamos o processamento de nossas emoções e pensamentos ao outro, por mais prazeroso que possa ser estar liberto desta responsabilidade, sempre seremos dependentes.

  5. Tenha reservas: Não precisamos dividir tudo, falar sobre tudo e reagir a tudo.

Terminar um relacionamento tóxico com uma pessoa narcisista


Sobre sair de um relacionamento tóxico com um narcisista

Sair de um relacionamento, seja qual for, pode ser uma situação desconfortável, triste e conturbada.


Sair do relacionamento com uma pessoa narcisista pode ser além de tudo isso uma experiência que desencadeia sentimentos de culpa, vergonha, medo e menos valia, isso tudo dependendo de qual narrativa ou co-idealização foi vivida pela dupla ou pelo grupo.


É comum que a pessoa que sai desta relação fique tomada por uma confusão emocional e de valores. É importante lembrar que o amigo, familiar ou cônjuge tóxico não tem contato muito firme com a realidade e então acusações podem e até devem ser questionadas silenciosamente.


O diálogo ou discussão costuma ser improdutivo ou levar em algum tempo novamente à um status quo. Em casos graves é comum que o agressor intimide ou ameace a vítima. Conte com uma rede de apoio ao sair de um relacionamento abusivo.



Conclusão

Entender um relacionamento abusivo e se recuperar do abuso narcisista são desafios complexos e dolorosos. No entanto, com o apoio adequado e o compromisso com o próprio bem-estar e autenticidade, é possível superar essa experiência e construir relacionamentos saudáveis e gratificantes no futuro.


A terapia pode ser uma ferramenta de ajuda no sentido de ser testemunhado, retornar o contato com o real e retomar posse de seus desejos e do próprio self. A relação saudável consigo mesmo e com os outros é necessária para o próprio desenvolvimento.



Fonte

Ferenczi, S. (1933). Confusão de língua entre os adultos e a criança. Em Obras Completas de Sándor Ferenczi: Psicanálise IV: A Interpolação de Princípio Ativo (pp. 213-231). Editora Zahar.


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Psicóloga Bruna Lima

CRP 06/130409

Bruna Lima Psicóloga Clínica

Psicblima@gmail.com

+55 11 99411-3832

Bruna Lima é psicóloga clínica com mais de 5 estrelas no Google. Graduou-se em Psicologia pelo Centro Universitário FMU  e tem 10 anos de experiência em psicologia clínica.

Cadastrada E-psi, atende on-line a brasileiros expatriados há 10 anos.

Possui três especializações/certificações em psicanálise pelas instituições:

Bruna também é colunista no AllPopStuff e tem um canal no YouTube.

Com sua sólida formação, Bruna utiliza abordagens psicanalíticas personalizadas para ajudar cada paciente adulto.

Oferece atendimento online e presencial. Entre em contato para agendar.

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