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Gaslighting narcisista: exemplos reais e o que podemos aprender

  • há 4 dias
  • 8 min de leitura


Você já teve dúvidas sobre suas próprias lembranças ou sentimentos após conversar com alguém? Talvez já tenha ouvido alguém dizer que “isso não aconteceu assim” ou “você está exagerando”, mesmo estando seguro sobre o que aconteceu. Esse tipo de experiência é chamado de gaslighting, um fenômeno psicológico comum em relações interpessoais — especialmente quando estão presentes traços narcisistas - e acontece quando alguém tem a intenção de manipular a situação ou outra pessoa para benefício próprio.


Neste artigo, vamos entender o que é gaslighting narcisista, trazendo exemplos reais desse comportamento em diferentes contextos, e refletindo sobre os caminhos para lidar com essas situações de forma construtiva e considerando a questão do transtorno de personalidade narcisista.


Metáfora sobre a lógica narcisista que acontece no gaslight


O que é gaslighting narcisista?


O termo gaslight surgiu a partir do filme “Gaslight” (1944), onde pequenas manipulações na rotina doméstica levam a protagonista a duvidar da sua sanidade. Hoje, gaslight é entendido como um padrão de interação no qual uma pessoa, muitas vezes de modo sutil e até inconsciente, leva a outra a duvidar das próprias emoções, memórias e percepções. Quando associado ao narcisismo, pode ganhar uma intensidade maior, pois a projeção que se faz é maciça. A pessoa tende a se proteger dos próprios sentimentos desconfortáveis projetando dúvidas sobre o outro de um modo muito convincente.


É importante ressaltar que o gaslight nem sempre é praticado de maneira intencional ou maldosa. Muitas vezes, ele surge como um mecanismo de defesa aprendido em contextos familiares ou sociais, perpetuando padrões de comunicação arcaicos.


Por que reconhecer o gaslighting é relevante?


Reconhecer o gaslight não é sobre condenar ou rotular pessoas, mas sobre ampliar a consciência sobre os modos de convivência que podem gerar insegurança ou confusão emocional. Entender como ele ocorre é um passo para construir relações mais saudáveis, onde diálogo e escuta genuína possam substituir a negação ou a distorção de experiências subjetivas que podem até causar transtornos e trauma emocional.


Exemplos reais de gaslighting narcisista


A foto mostra uma pessoa que viveu na união soviética

1. História: União Soviética e a manipulação coletiva


Durante o regime de Josef Stalin, diversas pessoas foram acusadas publicamente de crimes que não cometeram, em processos forjados. O governo usava propaganda para influenciar a assimilação da população sobre o que é real, promovendo dúvidas e insegurança em relação ao que era verdade ou não. Esse fenômeno coletivo ilustra como o gaslight pode ocorrer também em larga escala, afetando sociedades inteiras.




O casal Heard e Depp e sua disputa judicial

2. Relacionamentos e mídia: Amber Heard x Johnny Depp


O julgamento entre Amber Heard e Johnny Depp trouxe à tona relatos de situações em que ambos os envolvidos descreviam episódios de desqualificação da experiência do outro. Frases como “você está vendo coisas”, “isso nunca aconteceu” ou “você está inventando” ilustram como, em dinâmicas afetivas intensas, o gaslight pode emergir como forma de tentar proteger a própria versão dos fatos, muitas vezes sem plena consciência das consequências emocionais para o parceiro. Essa busca intensa pela posse da narrativa transforma a relação em um relacionamento abusivo.



O filme que originou a nomeação do tipo de tratamento

3. Literatura e cinema: O filme “Gaslight”


No clássico filme que originou o termo, o marido altera detalhes do ambiente e insiste que a esposa está enganada, levando-a a desmentir suas próprias percepções. A obra traz uma reflexão importante sobre como pequenas distorções ou negações cotidianas podem abalar a confiança de uma pessoa em si mesma.



Eliza Samudio sofreu gaslight

4. Contextos brasileiros: O caso Eliza Samudio e Bruno


No caso envolvendo Eliza Samudio e o ex-goleiro Bruno, relatos apontam para episódios em que Eliza teve suas experiências questionadas, sentimentos deslegitimados e ameaças negadas. Esse tipo de dinâmica, ainda que envolva fatores complexos e individuais, mostra como o gaslight pode se manifestar em diferentes contextos sociais e culturais.



Britney Spears e sua família tóxica

5. Gaslighting narcisista familiar: Caso Britney Spears


O caso da cantora Britney Spears ilustra como o gaslight narcisista pode se manifestar dentro da família. Por mais de uma década, Britney esteve sob uma tutela legal conduzida por seu pai. Muitas vezes, sua autonomia e percepções foram questionadas.Em documentos judiciais e relatos na mídia, Britney afirmou que era frequentemente levada a se perguntar sobre sua própria sanidade e capacidade de decisão. Seu pai, segundo testemunhos, usava frases como “isso é para o seu próprio bem”, “você não está bem”, “você precisa de ajuda”, levando a cantora a duvidar das próprias vontades e experiências.

Esse tipo de comportamento é característico do gaslight, principalmente quando praticado por figuras de autoridade na família, que usam seu papel para deturpar a realidade do outro. Casos assim podem afetar gravemente a autoestima e a saúde mental de quem vive o abuso, criando um ambiente "lesivo" e difícil de romper.O caso também levanta o debate sobre o impacto do questões de personalidade em dinâmicas familiares, e como o comportamento narcisista pode ser normalizado sob o discurso do “cuidado”.



Ellen Pao se defende do gaslight

6. Gaslighting narcisista no trabalho: Caso Ellen Pao x Kleiner Perkins


O processo movido por Ellen Pao contra a firma de investimentos Kleiner Perkins é um exemplo de gaslight narcisistano ambiente profissional. Durante o julgamento em 2015, Ellen Pao relatou ter sofrido repetidas situações de abuso emocional e discriminação.Ela contou que era frequentemente excluída de reuniões e, ao reclamar, ouviu de gestores que estava "exagerando" ou "interpretando mal as situações".


Esses episódios de influência são típicos do gaslight no trabalho, onde líderes ou colegas  tentam deturpar fatos e reverter a narrativa para parecer que a vítima é sensível demais ou pouco capaz.Essa dinâmica pode ser especialmente danosa quando o agressor ocupa cargos de poder e influência, transformando o ambiente em um verdadeiro relacionamento tóxico.O caso mostrou ao mundo como o gaslight pode ser tênue, mas profundamente prejudicial à autoestima e à saúde mental do trabalhador, sobretudo em culturas empresariais competitivas.



Narcisismo na família real britânica

7. Gaslighting narcisista e questões raciais: Caso Meghan Markle e Família Real Britânica


A experiência de Meghan Markle com membros da Família Real Britânica trouxe à tona episódios de gaslight com recortes raciais. Em entrevista a Oprah Winfrey, Meghan relatou que, ao mencionar o impacto do racismo da mídia e do ambiente palaciano sobre sua saúde, muitas vezes ouvia respostas como “você está vendo coisas onde não existem” ou “isso não foi racismo, você está exagerando”.


Esse tipo de resposta é uma tática clássica de controle e gaslight, especialmente em contextos onde há desequilíbrio de poder.A negação de experiências raciais, associada à tentativa de fazer a vítima indagar sua própria compreensão, pode ser devastadora para a autoestima e levar a um isolamento emocional, impactando seriamente a saúde mental.


No relato, Meghan evidencia como o este tipo de abuso pode estar presente em instituições tradicionais, e como pessoas com questões de personalidade ou em ambientes marcados pela soberba institucional tendem a evitar admitir falhas e preferem deturpar a narrativa.Esse caso evidencia que o gaslight é um comportamento que atravessa culturas, classes sociais e contextos, perpetuando dinâmicas tóxicas e abusivas.


Como lidar com situações de gaslighting narcisista?


Diante de experiências de dúvida recorrente sobre as próprias percepções, é importante adotar uma postura de autoconhecimento e busca de apoio.


  • Reflita sobre suas experiências: Registrar sentimentos, pensamentos e acontecimentos pode ajudar a diferenciar o que é senso própria e o que é influência do outro.

  • Converse com pessoas de confiança: Trocar impressões pode ser um recurso importante para validar suas emoções e reconstruir a segurança interna.

  • Procure apoio profissional: A psicoterapia oferece um espaço seguro para elaborar dúvidas e fortalecer o autoconhecimento, permitindo lidar com padrões relacionais desafiadores de maneira mais saudável.


Perguntas frequentes sobre gaslighting narcisista


1. O que é gaslighting e por que narcisistas costumam usar essa tática?


O termo gaslighting ficou famoso após o filme com o mesmo nome, onde a manobra tênue leva uma personagem a duvidar de suas próprias percepções. Na prática clínica, entendemos que gaslight é uma forma de artimanha psicológica que pode ser conscientemente usada por pessoas com traços narcisistas ou questões de personalidade narcisista (tpn) para desviar a atenção da realidade e conquistar poder e controle sobre o outro. O narcisista é mestre em criar dúvidas, fazendo com que a vítima questione a própria memória e própria sanidade.


2. Como identificar gaslighting narcisista? Quais comportamentos devo observar?


Saber reconhecer o gaslight pode ser difícil, pois é um tipo de influência muitas vezes tênue e gradual. Narcisistas frequentemente usam frases como: “você está exagerando”, “isso nunca aconteceu”, ou “você está ficando louco(a)”. O comportamento pode envolver negação de sentimentos, fatos ou até a realidade do sujeito.


Outros comportamentos de gaslight incluem distorcer conversas, projeção (atribuir à vítima características do próprio agressor), alternância entre love bombing (excesso de atenção e elogios) e desprezo, e tentativas de estabelecer limitesrígidos apenas para o outro.É essencial saiba como identificar essas dinâmicas, pois gaslight pode chegar a ser uma forma de abuso psicológico grave.


3. Gaslighting é uma forma de violência?


Sim, gaslight é uma forma de violência psicológica e é um tipo de abuso mental reconhecido pela psiquiatria e pela psicanálise como altamente prejudicial ao bem-estar emocional e à autoconfiança das vítimas. Esse tipo de violência pode acontecer em pais e filhos, casais, amizades, e até em ambiente de trabalho.Narcisistas usam o gaslight para manter dependência emocional e dificultar o rompimento do relacionamento danoso. O ciclo abusivo faz com que a pessoa é uma vítima do processo, mesmo sem perceber.


4. Quais sinais indicam que estou em um relacionamento com abuso narcisista?


Se você sente dificuldade em confiar nas suas próprias lembranças, se percebe que sempre precisa se justificar ou pedir desculpas por situações que não provocou, ou se existe uma oscilação entre confiança e amor e desprezo, isso pode indicar que vivencia gaslight. Em muitos casos, o abusador alterna comportamentos como o "love bombing" para criar vínculo e depois desvaloriza, instaurando um ciclo de dependência.


Narcisistas costumam usar também o isolamento, restringindo contatos da vítima com amigos ou familiares.Vítimas podem desenvolver problemas de saúde física e mental, como ansiedade, depressão e sintomas psicossomáticos.


5. Quem pode praticar gaslighting? Só pessoas com transtorno?


Embora seja mais comum entre indivíduos com questões de personalidade narcisista ou outros traços de personalidade, qualquer pessoa pode, em algum momento, "utilizar" o gaslight como forma de manipulação — inclusive, involuntariamente, como mecanismo de defesa.


Pais, mães (mãe narcisista), parceiros, amigos, líderes e até colegas de trabalho podem praticar gaslight. O importante é aprenda a reconhecer e buscar um relacionamento saudável e transparente.


6. Gaslighting pode acontecer no trabalho?


Sim, o ambiente de trabalho pode ser palco de gaslight narcisista. Líderes ou colegas que tentam convencer alguém de que seu desempenho é ruim sem base, tenta convencer a vítima de erros inexistentes, ou usam elogios para manipular decisões estão praticando uma tática manipuladora. Esse padrão, quando repetitivo, podem ter um impacto profundo na própria confiança, na saúde e na produtividade.


Saber estabelecer limites e buscar apoio — inclusive ajuda psicológica ou consultoria profissional — pode ser fundamental para lidar com a situação de maneira mais saudável.


7. Existe diferença entre gaslighting e outras formas de controle?


O gaslight se diferencia por ser uma forma de agressão que ataca diretamente a apreensão de realidade e a construção da realidade do outro, levando-o a desconfiar de si mesmo. Outras formas de "trapaça" podem envolver chantagem emocional, controle financeiro, ameaças ou isolamento, mas nem sempre provocam o mesmo grau de dúvida sobre a própria experiência.É por isso que o gaslight pode ser impactante — porque mina o senso grandioso de quem pratica e o bem-estar psíquico de quem vivenciam esse contexto.


8. O que fazer se eu percebo que estou sofrendo gaslighting narcisista?


O primeiro passo é reconhecer que é uma vítima de violência psicológica. Procurar um psicanalista ou psicoterapeuta especializado pode fornecer o insight necessário para reconstruir a autoconfiança e sair do ciclo de sofrimento.


Ajuda psicológica e redes de apoio são essenciais para fortalecer o aprendizado sobre relações saudáveis e evitar reincidência em padrões prejudiciaiss.Reforçar vínculos seguros, praticar o autocuidado e, quando possível, sair desse relacionamento prejudicial são formas de restabelecer o bem-estar emocional e retomar o protagonismo da própria vida.


Conclusão


O gaslight narcisista é um fenômeno que merece atenção e cuidado, tanto para quem vivencia quanto para quem, por vezes, perpetua o comportamento sem se dar conta. Mais do que julgar, o caminho é compreender, reconhecer os sinais e buscar formas mais construtivas de comunicação e convivência. Relações baseadas na escuta, na empatia e no respeito mútuo são fundamentais para superar padrões de desqualificação emocional.


Para saber mais:

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Matheus
há 4 dias
Rated 5 out of 5 stars.

Interessante. Me fez pensar nessa onda masculina que fala sobre manipulação em relações pessoais como se fosse desenvolvimento pessoal. Quando na verdade, parece mais um passo a passo de gás lighting

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Psicóloga Bruna Lima

CRP 06/130409

Bruna Lima Psicóloga Clínica

Psicblima@gmail.com

+55 11 99411-3832

Bruna Lima é psicóloga clínica com 5 estrelas no Google. Graduou-se em Psicologia pelo Centro Universitário FMU  e tem 10 anos de experiência em psicologia clínica.

Cadastrada E-psi, atende on-line a brasileiros expatriados há 10 anos.

Possui três especializações/certificações em psicanálise pelas instituições:

Bruna também é colunista no AllPopStuff e tem um canal no YouTube.

Com sua sólida formação, Bruna utiliza abordagens psicanalíticas personalizadas para ajudar cada paciente adulto.

Oferece atendimento online e presencial. Entre em contato para agendar.

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