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DARK TRIAD explicado sem rótulos: por que certos vínculos adoecem

  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Na psicanálise, o que hoje é chamado de Dark Triad personality não é visto apenas como um conjunto de traços “difíceis” em alguém, mas como um modo de se relacionar em que o outro não é vivido/percebido plenamente como pessoa.


Freud já descrevia que, quando o narcisismo é muito fechado em si mesmo e não há limites internos que organizem o cuidado com o outro, o vínculo deixa de ser guiado por consideração e passa a servir ao próprio interesse.


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André Green ajuda a entender esses casos ao descrever a experiencia subjetiva de um vazio psíquico em que o outro perde importância emocional e passa a ser tratado como função ou meio.


Otto Kernberg observa que, nessas relações, é comum haver sedução, exploração e descarte, enquanto Christopher Bollas descreve o uso do outro como alguém que serve para regular emoções e sustentar a identidade, não para troca real.


O ponto central não é crueldade consciente, mas uma dificuldade profunda de reconhecer o outro como alguém separado, com sentimentos e limites, o que torna os vínculos inevitavelmente destrutivos para quem se envolve.



O funcionamento por trás do que hoje se chama Dark Triad

Apesar de a psicologia da personalidade descrever a Dark Triad como a soma de narcisismo, maquiavelismo e psicopatia, o que se observa para além de traços isolados é o modo recorrente e negativo de se relacionar.


Trata-se de uma forma de se relacionar em que o outro não é vivido como alguém com interioridade própria, mas como meio de regulação, confirmação ou descarga. Nesses casos, o vínculo não é espaço de troca, mas de uso.


O outro deixa de ocupar um lugar vivo na economia emocional da pessoa e passa a existir como função: alguém que serve para estimular, conter, validar ou sustentar uma identidade frágil. Quando essa função falha, o vínculo perde sentido.


Kernberg observa que esse funcionamento costuma combinar narcisismo e agressividade, seguidas por exploração, desvalorização e descarte.



Do que se trata a triade?


4. Narcisismo patológico: o outro como espelho descartável


  • O outro existe para sustentar uma imagem

  • Quando deixa de cumprir essa função, é desvalorizado

  • Alternância entre idealização e descarte


5. Maquiavelismo: inteligência sem ética relacional

  • Capacidade cognitiva preservada

  • Empatia instrumental (entende o outro para manipulá-lo)

  • Planejamento frio do vínculo

  • O laço é um jogo, não uma relação

Aqui não há ingenuidade: há cálculo.

6. Psicopatia: ausência de inscrição do outro como sujeito

  • Não é fúria constante, é indiferença

  • O outro não é vivido como semelhante

  • A dor alheia não organiza limites internos

Leitura psicanalítica: falha primitiva de simbolização do outro.


Bem perto de você

Hoje, no Brasil, pessoas com esse tipo de funcionamento aparecem menos como “figuras fora da curva” e mais diluídas em certos contextos sociais, onde esse modo de operar não só é tolerado, como recompensado.


É possível encontrá-las com mais frequência: 1. Em relações amorosas marcadas por assimetria de poder Aplicativos de relacionamento, dinâmicas de descarte rápido, sedução intensa seguida de indiferença. Esses ambientes favorecem:

  • uso do outro sem implicação

  • mentiras instrumentais

  • exploração afetiva

2. Em ambientes corporativos altamente competitivos


Especialmente onde:

  • performance vale mais que ética

  • vínculos são descartáveis

  • empatia é vista como fraqueza

  • Traços de frieza, manipulação e narcisismo podem ser premiados.


3. Em espaços de visibilidade e poder simbólico


Influenciadores, líderes carismáticos, figuras públicas:

  • grande investimento na imagem

  • relações utilitárias

  • dificuldade de sustentar responsabilidade afetiva

  • O narcisismo encontra palco, não limite.


4. Em contextos de violência doméstica e abuso psicológico


Aqui o funcionamento deixa de ser apenas relacional e pode escalar:

  • controle

  • humilhação

  • intimidação

Em 2024 (dados mais recentes reportados no Atlas 2025), cerca de 1.459 mulheres foram assassinadas por razões de gênero no Brasil


5. No sistema penal e forense (minoria)


Casos de psicopatia em sentido estrito:

  • crimes reiterados

  • ausência de remorso

  • uso instrumental do outro

São raros, mas existem — e não representam a maior parte das relações abusivas.



O efeito psíquico em quem se relaciona com alguém assim


O efeito mais frequente não é tristeza simples, mas desorganização emocional. A pessoa passa a duvidar do próprio sentir, do próprio julgamento e da própria percepção da realidade. Surge ansiedade, ruminação e, muitas vezes, um empobrecimento da espontaneidade.


Isso não indica fragilidade pessoal. Indica exposição prolongada a uma relação em que um domina e o outro acata, por que se corre risco.



Uma verdade importante


Compreender esse funcionamento não serve para vigiar pessoas nem para rotular relações. Serve para interromper a própria violência psíquica de tentar sustentar vínculos onde o outro não está disponível para reconhecer, cuidar ou se implicar.


Não se trata de mudar o outro, mas de retirar o próprio desejo de um campo onde ele é usado, e não celebrado.



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Psicóloga Bruna Lima

CRP 06/130409

Bruna Lima Psicóloga Clínica

Psicblima@gmail.com

+55 11 99411-3832

Bruna Lima é psicóloga clínica com 5 estrelas no Google. Graduou-se em Psicologia pelo Centro Universitário FMU  e tem 10 anos de experiência em psicologia clínica.

Cadastrada E-psi, atende on-line a brasileiros expatriados há 10 anos.

Possui três especializações/certificações em psicanálise pelas instituições:

Bruna também é colunista no AllPopStuff e tem um canal no YouTube.

Com sua sólida formação, Bruna utiliza abordagens psicanalíticas personalizadas para ajudar cada paciente adulto.

Oferece atendimento online e presencial. Entre em contato para agendar.

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