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O que é Gaslighting?

Definição de Gaslighting

O gaslight faz a gente se perguntar: “Será que eu estou exagerando?” “Talvez eu tenha entendido errado…”

Essas dúvidas podem ser parte do gaslighting: uma forma de manipulação psicológica em que alguém distorce fatos, minimiza sentimentos ou “reescreve” acontecimentos para que você duvide da própria percepção. O objetivo é manter controle e poder na relação.


A American Psychological Association define o gaslighting como uma forma de manipulação emocional persistente (APA, 2024)

Sinais comuns de gaslighting

• Inversão de fatos: “Isso nunca aconteceu”, “Você que entendeu errado”.


• Minimização: “Nossa, quanta sensibilidade… era só uma brincadeira”.


• Culpa deslocada: você se desculpa por coisas que não fez.


• Isolamento sutil: “Sua amiga te influencia, não confie nela”.


• Autoquestionamento constante: medo de falar, checar mensagens o tempo todo, insegurança para tomar decisões.


• Ciclo de confusão e reconciliação: após a violência psicológica, vem uma fase “carinhosa” que confunde e te prende.


Veja mais sinais aqui.


Pesquisas mostram que vítimas de abuso psicológico têm risco até 3x maior de desenvolver TEPT-C (Herman, 2015; Dvir et al., 2014).


O termo gaslighting vem do filme “Gaslight” (1944), em que um marido manipulava a esposa fazendo-a acreditar que estava perdendo o juízo: ele diminuía propositalmente a luz das lâmpadas a gás e, quando ela questionava, dizia que nada havia mudado. O objetivo era levá-la a duvidar da própria percepção, até perder completamente a confiança em si mesma.


Na psicologia, o termo passou a ser usado para descrever esse tipo de manipulação emocional sistemática: o agressor “reescreve” a realidade, nega fatos e invalida sentimentos para que a vítima se sinta confusa, frágil e dependente. Por isso, ao perguntar o que é gaslighting, estamos falando não apenas de “mentira”, mas de uma estratégia de controle psíquico baseada em desorientação e erosão da autoestima.

O que o gaslighting não é

• Não é conversa difícil com opiniões diferentes.


• Não é um erro pontual com posterior reparação.


• Não é crítica construtiva com respeito e abertura ao diálogo.


▷ A chave é a repetição + negação sistemática da sua experiência.


Veja exemplos aqui.

Efeitos psicológicos mais frequentes

• Ansiedade, culpa difusa e queda da autoestima.


• Dificuldade de confiar na própria memória e emoções.


 • Dependência emocional e medo de “provocar” conflitos.


• Sintomas físicos do estresse (insônia, tensão corporal).


Estudos recentes apontam que os efeitos psicológicos gaslighting está associado a sintomas de ansiedade, culpa e dissociação (Sweet, 2019; Abramson et al., 2020). Estão também são sintomas apresentados no trauma emocional.

O gaslight provoca confusão

Como se proteger do gaslighting (primeiros passos práticos)

• Nomeie: reconheça o padrão (“isso é gaslighting”).


• Registre: anote datas, frases, contextos. Ajuda a ancorar a realidade.


• Busque apoio: converse com alguém de confiança; o isolamento favorece o abuso.


• Defina limites: comunique o que é inegociável (respeito, não gritar, não invadir privacidade).


• Planeje segurança: se houver risco (financeiro, digital, físico), organize proteção com cuidado.


Procure terapia: reconstruir a confiança interna é um trabalho clínico — especialmente se há histórico de traumas.


▷ Emergência: se você se sente em perigo, procure ajuda imediatamente (no Brasil: 190; violência contra a mulher: 180; apoio emocional: CVV 188).

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A abordagem psicanalítica

Como a
psicoterapia ajuda

  • Restitui o senso de realidade interna: diferenciar sua voz psíquica do olhar do outro.

  • Mapeia repetições (ex.: escolher parceiros que invalidam).

  • Repara a autoestima sem cair no “tudo ou nada”.

  • Fortalece limites e o uso da palavra para nomear a violência.

  • Integra corpo e mente: reconhecer sinais de alerta no corpo (tensão, congelamento) como parte da história emocional.

Vinheta clínica: quando o gaslighting mina a confiança no próprio sentir

“Quando tudo vira dúvida”

O exemplo a seguir é inspirado em situações reais atendidas em contexto clínico (com dados alterados para preservar o sigilo). Ela chegou dizendo que “se perde nas próprias memórias”. Toda vez que trazia um incômodo, ouvia que estava “paranoica”. Em poucas semanas de análise, começou a trazer anotações do cotidiano — pequenos fatos que antes eram facilmente apagados. Ao ancorar a experiência, percebeu o padrão de inversão. Com o tempo, recuperou a confiança para nomear limites e reorganizar a vida sem pedir “permissão” para sentir.


Veja também o gaslight em diferentes contextos: familiar, parental e romântico.

Gaslighting em relacionamentos amorosos

No contexto afetivo, o gaslighting costuma aparecer como forma de controle emocional: o parceiro distorce acontecimentos, nega o que disse ou fez, e trata a outra pessoa como “sensível demais”, “dramática” ou “louca”. A vítima passa a pedir desculpas por tudo, tem medo de confrontar e começa a duvidar do próprio julgamento. Aqui, o objetivo não é conflito — é desestabilizar para manter poder. Quanto maior a confusão interna, maior a dependência do abusador.

Gaslighting na família (pais x filhos)

Quando o gaslighting acontece no ambiente familiar, ele costuma se disfarçar de “cuidado” ou “educação”. Frases como “isso nunca aconteceu”, “você está inventando”, “você entendeu errado”, ou “você sempre exagera” têm um efeito silencioso e cumulativo: a criança cresce sem confiança no próprio sentir. Na vida adulta, isso pode se manifestar como dificuldade de dizer “não”, medo de decepcionar e tendência a se submeter a relações abusivas, porque o eu interno foi treinado para desconfiar de si mesmo.

Gaslighting no trabalho ou por figuras de autoridade

No ambiente profissional, o gaslighting costuma aparecer em dinâmicas hierárquicas: chefes ou líderes que negam acordos previamente combinados, atribuem erros ao subordinado, fazem comentários que diminuem competência e depois dizem que foi “brincadeira” ou “falta de interpretação”. Aos poucos, o trabalhador passa a achar que é incompetente, perde segurança na própria performance e fica preso a um lugar de submissão/silenciamento, com medo de retaliações ou desqualificação pública.

Perguntas frequentes (FAQ)

Gaslighting é crime?

    O gaslighting é violência psicológica; pode estar associado a crimes (como perseguição, ameaça). Procure orientação jurídica/Delegacia da Mulher quando for o caso.

Como diferenciar má comunicação de gaslighting?

    Na má comunicação há responsabilidade e abertura para reparar. No gaslighting há negação sistemática da sua percepção e culpabilização recorrente.

Dá para continuar a relação?

    Depende de reconhecimento real, mudança de comportamento e segurança. Em muitos casos, é preciso se afastar para se proteger.

Terapia online funciona para isso?

    Sim. O importante é ter um espaço consistente e sigiloso para reconstruir confiança interna e limites.

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Psicóloga Bruna Lima

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👩‍⚕️ Sobre a autora

Bruna Lima é psicóloga clínica (CRP 06/130409), formada pela FMU, com certificação pelo Instituto Sedes Sapientiae e Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Atua há mais de 10 anos com atendimento clínico, com foco em traumas relacionais, TEPT-C e dinâmicas de abuso emocional como o gaslighting.

Referências Bibliográficas

    Judith Herman (1992/1997). Trauma e Recuperação. Companhia das Letras. — Obra clássica que diferencia trauma simples e complexo, baseando-se na relação entre poder e testemunho.

    Sándor Ferenczi (1932/1949). Diários Clínicos. Martins Fontes. — Desenvolve o conceito de “introjeção do agressor” e o papel do trauma relacional.

    W. R. Bion (1962). Aprender com a Experiência. Imago. — Fundamenta a noção de “terror sem nome” e a importância da rêverie na função terapêutica.

    Donald Winnicott (1960/1983). O Ambiente e os Processos de Maturação. Artes Médicas. — Referência essencial sobre o papel do ambiente e da sustentação emocional no desenvolvimento.

    Otto Kernberg (1975). Transtornos de Personalidade e Transferência. Artmed. — Obra de referência sobre organização borderline e dinâmica do self.

    Sweet, P. L. (2019). The sociology of gaslighting. American Sociological Review, 84(5), 851–875.
    Abramson, K., et al. (2020). Gaslighting: Abuse, manipulation, and the erosion of autonomy. Philosophical Topics, 48(2), 19–45.

    Dvir, Y., Ford, J. D., Hill, M., & Frazier, J. A. (2014). Childhood trauma and complex PTSD. Harvard Review of Psychiatry, 22(5), 265–276.
    Herman, J. L. (2015). Trauma and Recovery. Basic Books.

Disclaimer

    Os textos deste site têm caráter informativo e psicoeducativo. Eles não substituem avaliação, diagnóstico ou acompanhamento psicológico individual. Cada pessoa tem uma história e um contexto singulares — portanto, as reflexões aqui apresentadas não configuram aconselhamento personalizado, nem pretendem esgotar os temas abordados. Se você se identifica com algum conteúdo ou está passando por sofrimento emocional, o ideal é buscar um atendimento psicológico individualizado. Este conteúdo tem caráter informativo e visa promover conscientização sobre dinâmicas abusivas. Não substitui avaliação individual por um profissional qualificado.A autora segue o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005) e mantém sigilo em todos os atendimentos.Em situações de risco, procure ajuda imediata em serviços de emergência (SAMU 192, CVV 188).. Conteúdo revisado por Bruna Lima, Psicóloga (CRP 06/130409). Última revisão: 16 de outubro de 2025.
    Organização Mundial da Saúde (OMS): https://www.who.int
    Conselho Federal de Psicologia: https://site.cfp.org.br
    American Psychological Association (APA): https://www.apa.org/topics/abuse
    30 de abril de 2022 às 20:50:17

Created date:

    16 de novembro de 2025 às 16:01:19

Last modified:

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