
Amor que faz bem
O amor pode ser vivido de muitas formas, mas nem todas constroem. Há vínculos intensos que exaurem, relações que prometem completude e produzem medo, e amores que exigem que o sujeito desapareça para que a relação exista. A proposta aqui é outra.
O amor que se torna possível a partir de um processo analítico é mais tranquilo, emocionalmente sustentado e vivo. Um amor que faz bem, que amplia em vez de contrair, que permite vínculo sem perda de si. Não se trata de amar menos, mas de amar sem que a própria existência fique em risco.
O que costuma ser chamado de amor
Com frequência, o amor é confundido com intensidade, fusão ou necessidade absoluta do outro. Ama-se como quem precisa, como quem se completa, como quem encontra no vínculo a garantia de valor e existência. Em outras versões, o amor aparece higienizado: funcional, correto, regulado por regras do que seria saudável.
Essas leituras não são falsas, mas são limitadas. Elas tendem a ignorar que o amor, quando vivido como promessa de completude ou como condição para existir, gera medo, vigilância e dependência. E que um amor excessivamente normatizado pode até funcionar, mas pouco toca a experiência emocional real de quem ama.
Amor, dependência e o mito do amor-próprio
Existe um mito recorrente de que só é possível amar depois de desenvolver amor-próprio. Na realidade isso não se sustenta. Muitas pessoas podem encontrar valor em si justamente na experiência de amar e ser amadas, acontece muito com mães por exemplo. O vínculo pode, sim, inaugurar amor-próprio.
O problema não está em precisar do outro. Está em acreditar que só se existe através do outro. Nesses casos, amar vira dependência não por excesso de afeto, mas por uma crença silenciosa de não ser inteiro, possível ou suficiente sozinho. A fantasia é a de que, se o vínculo acabar, a própria vida perde sentido.
Por isso, amor não se mede por sinais externos nem por regras do que seria saudável. O único critério consistente é o efeito interno: o amor amplia ou contrai? Traz tranquilidade emocional ou vigilância constante? Permite continuar existindo fora da relação ou exige renúncia?
Amar bem não é amar sem precisar, é amar sem deixar de ser alguém em separado.
Além da teoria do apego: amor sem posse
A teoria do apego, especialmente em suas versões mais popularizadas, tenta explicar o amor a partir de padrões previsíveis de aproximação e afastamento. Embora ajude a nomear movimentos relacionais, ela costuma empobrecer a experiência amorosa ao reduzi-la a estilos fixos, e ao meu ver, muito para explicar o amor vivido com posse.
O que muitas vezes aparece como “puxa e empurra” não é apenas insegurança de apego, mas uma relação atravessada por ideias de posse, garantia e medo de perda. Ama-se tentando assegurar o outro, ocupar um lugar exclusivo, evitar a falta.
O vínculo vira proteção contra o desamparo, não encontro entre dois sujeitos.
Um amor mais sofisticado não elimina o apego, mas dispensa a posse. Ele admite a existência do outro como outro, separado, livre, não garantido. Esse tipo de amor só se sustenta quando o sujeito não precisa capturar o vínculo para continuar existindo.
Amor como escolha e prática
Bell Hooks propõe o amor como escolha e prática cotidiana, não apenas como sentimento passivo. Amar envolve cuidado, responsabilidade, presença e compromisso com o bem do outro. Essa formulação é valiosa porque retira o amor do lugar do arrebatamento e o aproxima da ética do vínculo.
O ponto delicado é quando essa ideia se transforma em obrigação moral. Amar não pode significar se sacrificar continuamente nem sustentar relações à custa do próprio desejo. A escolha amorosa, para ser viva, precisa partir de um sujeito que existe — não de alguém que ama para não perder, não ficar só ou não se sentir insuficiente.
O amor que constrói é aquele em que a escolha não anula quem escolhe. Ele se pratica, sim, mas a partir de presença e verdade emocional, não de obediência a um ideal de maturidade.
Amor como asset psíquico
Quando o amor deixa de ser vivido como garantia de existência ou como campo de ameaça, ele se torna um asset psíquico. Algo que fortalece, organiza e sustenta, em vez de drenar ou confundir. Esse amor não depende de intensidade constante nem de fusão; ele se apoia em bem-querer, confiança emocional e presença.
Trata-se de um amor que constrói: amplia a capacidade de estar com o outro sem se abandonar, permite atravessar conflitos sem colapso e sustenta vínculos sem vigilância permanente. Não é um amor idealizado, mas possível, aquele que faz bem porque não exige que o sujeito se diminua para permanecer e nem há urgência para dominar.
O amor não resolve a vida nem elimina perdas. Mas oferece base emocional para viver, escolher e seguir, mesmo quando o outro falha, se ausenta ou vai embora. É um amor que acompanha, que se desdobra e que faz com que a pessoa que ama se sinta bem.
O que muda numa análise
Na análise, o amor deixa de ser vivido como campo de sobrevivência e passa a se organizar como vínculo possível. O sujeito começa a reconhecer onde amar exigia desaparecer, se adaptar demais ou abrir mão de si para não perder o outro. Esse reconhecimento não é apenas intelectual, ele se dá pela experiência.
Ao se perceber inteiro, o medo de perder o vínculo diminui. Não porque o outro se torne menos importante, mas porque a própria existência deixa de depender exclusivamente da relação. Isso transforma a forma de amar: menos vigilância, menos fantasia de posse, mais presença real.
O amor que emerge desse processo é mais tranquilo e confiável. Ele não precisa provar nada, nem garantir tudo. Pode construir, atravessar falhas e sustentar separações sem colapso. Amar deixa de ser risco de desaparecer e passa a ser possibilidade de encontro.
Para quem esse processo faz sentido
Este processo costuma fazer sentido para pessoas que:
amam com medo de perder a si mesmas
sentem que se apagam ou se adaptam demais nos vínculos
confundem amor com fusão, necessidade ou garantia
já viveram relações intensas, mas emocionalmente exaustivas
desejam um amor mais tranquilo, possível e construtivo
querem amar sem que a própria existência fique em risco
Nesses casos, a análise não ensina a amar “do jeito certo”. Ela cria condições para que o amor deixe de ser ameaça e se torne um lugar de bem-querer, presença e construção mútua.
Olá
Meu nome é Bruna
Sou Bruna Lima, psicóloga clínica, com atuação em psicoterapia psicanalítica para adultos. Atendo pessoas que sentem angústia persistente, repetições emocionais, vazio ou sofrimento difuso que não se resolve apenas com técnicas de controle de sintomas.
Meu trabalho é orientado pela psicanálise (Bion, Klein, Ferenczi, Bollas) e por uma escuta clínica cuidadosa, que ajuda a dar forma psíquica ao que ainda não tem nome, diferenciando ansiedade comum de conflitos emocionais mais profundos.
Atendo na Av. Paulista com possibilidade de atendimento presencial e online, oferecendo um espaço ético, seguro e contínuo para quem busca compreensão, elaboração emocional e transformação psíquica.

December 30, 2025 at 3:09:58 PM



