Bruna Lima
20 de abr de 20232 min
Atualizado: abr 14
Ter a experiência de ser escutado por alguém que se faz testemunha é algo muito importante para pessoas que viveram situações traumáticas. Ao contar histórias e compartilhar sentimentos nós encontramos uma forma de elaborar suas experiências.
A experiência que alguém pode ter quando faz terapia não se resume apenas à narrativa de sua dor e a escuta dela por um outro, é mais do que isso.
E também, é preciso reconhecer o paradoxo que se apresenta em casos em que dizer o indizível é algo que nem sempre é possível. Pode haver dificuldade de narrar o que é incomunicável, até mesmo para quem narra.
Mas então como falar sobre seus traumas pode ser algo terapêutico para alguém? Como o psicólogo ouve o relato do impossível, do indizível? Essas são algumas das questões que exploraremos neste artigo.
Os relatos, histórias, lembranças de quem as conta podem ter descontinuidades porque surgem dos fragmentos da experiência e dos sinais de percepção de algo que pode ter sido chocante e que não se consegue entender ou elaborar.
Mas o mais importante é que alguém esteja disposto a ouvir e reconhecer a história contada, em um ambiente clínico ou comunitário que estejam disponíveis para discutir a dor e a confusão.
A narração da história pode transportar quem a narra para um estado de alteridade em que nos percebemos como um alguém "em separado", diferente do outro, longe de uma simbiose traumatizante.
A testemunha não é apenas aquele que viu com os próprios olhos, mas também quem permanece presente e é capaz de ouvir a história.
É muito comum que a pessoa que tenha vivido um trauma se sinta confusa, sem saber o que é real e o que não é ou o que é adequado e o que não é. Encarar o bom como ruim e o ruim como bom. Ou então trazer consigo crenças antigas que não necessariamente ajudam em seu desenvolvimento.
A presença de uma pessoa que possa testemunhar a história contada, a dor e o sofrimento de quem a narra, é importantíssima para que possa haver recuperação e busca por sentido do que não faz sentido.
O psicólogo costuma desempenhar esse papel, permitindo que o paciente se sinta ouvido, compreendido e mais: que o paciente sinta seus sentimentos em relação ao trauma serem validados.
Donald Winnicott destacou a importância da regressão na análise, ou seja, permitir que o paciente volte a estados mais primitivos e infantis, a fim de revisitar traumas e conflitos não resolvidos.
Essa abordagem é fundamental para a recuperação do paciente, se atuada com respeito e calma, pois permite que o paciente lide com as emoções e sentimentos que foram reprimidos ou negados durante sua vida, e depois de processados, digeridos e transformados, voltar a se desenvolver como pessoa.