A psicanálise é uma forma profunda de entender como nossa mente funciona, algo que pode ser útil para quem está buscando entender mais sobre a mente. Embora não seja exatamente uma ciência como a física ou a química, ela é considerada uma "ciência do conhecimento", também chamada de "epistemologia".
"Epistemologia" é uma palavra complicada, mas pense nisso como o estudo de como sabemos o que sabemos. A psicanálise está interessada em entender como nossa mente trabalha e como chegamos a saber as coisas sobre nós mesmos.
O "empirismo" é uma parte importante disso. Isso significa que aprendemos muitas coisas através da nossa experiência - aquilo que vemos, ouvimos, tocamos e sentimos ao nosso redor.
Na psicanálise, os psicanalistas e os psicólogos observam cuidadosamente como as pessoas pensam, se sentem e interagem em sessões clínicas, por exemplo. Eles usam essa observação para desenvolver teorias e compreender melhor como nossa mente funciona. Isso ajuda a melhorar sempre o atendimento sobre questões psíquicas e atendimento. Sendo assim sempre haverá algo novo a ser descoberto.
A psicanálise é rigorosa em sua abordagem, mesmo que não seja uma ciência "tradicional". Ela busca entender os aspectos fundamentais da mente humana, e isso pode ser valioso para quem está em busca de ajuda para entender melhor a si mesmo e superar desafios emocionais.
Psicanálise e Ciência .pdf
Enquanto a classificação da psicanálise como uma ciência é debatida, alguns autores abordaram essa perspectiva em suas obras, explorando a relação entre a psicanálise e o domínio científico. Aqui estão alguns livros que oferecem visões interessantes sobre a psicanálise como uma disciplina científica:
(Why Psychoanalysis?) por Elisabeth Roudinesco: Este livro oferece uma defesa da psicanálise e explora a relevância contínua dessa abordagem na psicologia e no campo das ciências humanas.
"[..] De fato, ela mostrou que, quase sempre, são os estudiosos mais positivistas e mais apegados aos princípios da ciência pura e exata que elaboram as teorias mais extravagantes e mais irracionais sobre o cérebro e o psiquismo, a partir do momento em que pretendem aplicar seus resultados à totalidade dos processos humanos. A busca da racionalização integral, que, no fundo, visa a dominar a fabricação do homem, não passa de uma nova versão do mito de Prometeu." -Elisabeth Roudinesco.
2. "Freud"
Por Richard Wollheim: Este livro explora as relações entre Freud e a ciência, analisando como as ideias de Freud podem ser consideradas em um contexto científico.
“A psicanálise teve origem na terapia. Se não tivesse, a terapia teria saído da teoria, pois a relação da terapia com a teoria na psicanálise é apenas um exemplo especial da maneira pela qual toda ciência empírica permite uma aplicação prática." * - Richard Wolheim
Por Frank Sulloway: Ele argumenta que Freud era um biólogo de mente e explora a relação entre a biologia, a psicologia e a psicanálise, destacando como a abordagem de Freud pode ser considerada científica.
"As inovações psicanalíticas de Freud - a saber, sua abordagem psicológica dinâmica do comportamento humano - transformaram seu pensamento posterior sobre a mente em uma ciência psicológica independente."- Frank Sulloway
Sim, a Psicanálise é Ciência
A psicanálise, de maneira inerente, é uma disciplina "encarnada", enraizada na prática clínica onde o mundo real ganha vida através do paciente. Nesse espaço, os analistas e psicólogos assumem o papel de observadores cuidadosos, imersos em uma busca científica.
Bernardo Tânis, ex presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, coloca de forma perspicaz que é necessário manter uma certa distância, uma estranheza, para olhar como um "cientista", o que enfatiza a abordagem analítica qualitativa, que reconhece que o psiquismo não existe em isolamento do mundo em que vivemos.
Contudo, é vital reconhecer que a psicanálise, como qualquer disciplina, pode, às vezes, correr o risco de cair no campo da "bobagem", o que reforça a importância da atitude científica.
O modo de produção do saber na psicanálise tem suas particularidades, é epistêmico, fundado na investigação rigorosa da experiência humana.
A essência da psicanálise transcende o âmbito individual. Ela é uma ciência social, cognitiva e empírica, estreitamente entrelaçada com o mundo e as pessoas que o habitam. A disposição para se submeter a testes e questionamentos é intrínseca à sua natureza científica, refletindo a abordagem de Freud ao apresentar suas descobertas à comunidade médica.
Uma das características mais fascinantes da psicanálise é sua capacidade de abordar a vastidão da vivência humana. Por sua natureza abrangente, a psicanálise não oferece respostas absolutas, mas sim uma compreensão enriquecedora da complexidade da vida. É essa ambição de decifrar o intrincado labirinto da experiência humana que a torna uma ciência tão valiosa, desafiadora e em constante evolução.
Psicanálise e Ciência na História
A história da relação entre a psicanálise e a ciência é rica em complexidade e evolução. Desde as raízes lançadas por Sigmund Freud no início do século XX, a psicanálise se viu em um território peculiar entre a filosofia e as ciências experimentais. Muitos, como Jacques Lacan, psicanalista, reconheceram a importância de trazer à tona aspectos da psique humana que escapavam ao escrutínio das ciências da época.
A psicanálise, por outro lado, não se encaixava facilmente no conjunto de ciências experimentais, onde a validação por meio de testes controlados é fundamental. Ao invés disso, a psicanálise conta com a própria experiência no consultório. A sua ênfase no entendimento particular de cada indivíduo e a atuação nas nuances da linguagem e da subjetividade tornaram-na mais uma ciência conjectural do que uma ciência no sentido tradicional, "hard science".
No entanto, assim como na cultura, a p sicanálise encontrou um espaço valioso, preenchendo lacunas que outras disciplinas não conseguiram abordar. Seu foco na verdade interior e a exploração dos mistérios da mente continuaram a intrigar e ajudar muitos ao longo das décadas e até hoje a psicanálise continua a expandir seu corpo de conhecimento.
Enfim, a psicanálise, apesar de não se enquadrar totalmente no paradigma das ciências experimentais, possui um lugar respeitado e influente na compreensão da psicologia e da condição humana. A sua atuação na análise profunda da linguagem e da subjetividade, e a ênfase na cultura e no "outro", enriquecem nossa abordagem das complexidades mentais, mesmo em um mundo onde a ciência moderna estabelece padrões rigorosos p ara validação.
Conclusão
A tal psicanálise, apesar de não ser uma ciência nos moldes tradicionais, desempenha um papel fundamental na b usca por um entendimento mais profundo da mente humana.
Através de uma abordagem que combina observação clínica, reflexão e uma atitude científica rigorosa, os psicanalistas e psicólogos exploram as complexidades do nosso mundo interno e as interações com o mundo exterior.
Embora a psicanálise possa ser vista como uma "ciência do conhecimento", ela não se limita a respostas absolutas. Em vez disso, oferece uma perspectiva valiosa para aqueles que buscam compreender a si mesmos, enfrentar desafios emocionais e explorar os mistérios da experiência da nossa espécie e do nosso mundo.
Através da intersecção entre teoria e prática, a psicanálise enriquece nosso entendimento da mente e nos convida a uma jornada de autoconhecimento e evolução contínua de conhecimento.
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