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Parentalidade Consciente: Como Criar Filhos de Forma Equilibrada e Respeitosa, Mesmo com um Histórico de Trauma

A parentalidade consciente é uma abordagem que busca criar filhos de forma intencional, respeitosa e equilibrada, promovendo o desenvolvimento saudável e feliz das crianças.


Para pais e mães que buscam autoconhecimento e enfrentam situações específicas, como um histórico de trauma ou questões relacionadas ao apego ansioso, inseguro, ambivalente ou desorganizado, essa jornada pode ser especialmente desafiadora.


Este artigo oferece estratégias práticas e orientações para ajudar você a fortalecer o vínculo familiar, promover o desenvolvimento emocional dos seus filhos e criar um ambiente de amor e segurança.


Parentalidade Consciente


A Criação Não Consciente de Filhos e a Reprodução de Traumas Geracionais


A criação não consciente de filhos, marcada pela repetição automática de padrões e pela falta de reflexão sobre as próprias experiências infantis, pode ser entendida, à luz da psicanálise, como um mecanismo de repetição compulsiva. Esse conceito, elaborado por Freud, refere-se à tendência inconsciente de reviver situações traumáticas ou conflituosas, muitas vezes como uma tentativa falha de elaboração psíquica. Quando os pais não conseguem acessar e processar suas próprias histórias de vida, especialmente aquelas marcadas por traumas, eles correm o risco de reproduzir, de forma não intencional, dinâmicas disfuncionais e feridas emocionais que foram transmitidas de geração em geração.


O trauma geracional, conceito explorado por teóricos como Nicolas Abraham e Maria Torok, refere-se à transmissão inconsciente de experiências não elaboradas de uma geração para outra. Esse processo ocorre quando os pais, sem perceber, projetam em seus filhos conteúdos psíquicos não resolvidos, como medos, angústias e conflitos internalizados durante sua própria infância. Por exemplo, um pai que cresceu em um ambiente emocionalmente negligente pode, sem consciência, repetir padrões de distanciamento afetivo com seus filhos, perpetuando um ciclo de desconexão emocional.


A falta de consciência parental sobre esses mecanismos pode levar à criação de filhos em um ambiente onde as necessidades emocionais básicas — como segurança, validação e empatia — não são adequadamente atendidas. Isso pode resultar em crianças que internalizam uma sensação de desamparo, inadequação ou insegurança, características que podem se manifestar em padrões de apego ansioso, evitativo ou desorganizado. Esses padrões, por sua vez, tendem a se repetir na vida adulta, perpetuando o ciclo de trauma.

Em suma, a criação não consciente de filhos funciona como um vetor de transmissão de traumas. Romper esse ciclo exige coragem para mergulhar nas próprias sombras e, a partir dessa jornada, oferecer às novas gerações a possibilidade de uma existência mais livre e plena.



O Que é Parentalidade Consciente?


A parentalidade consciente é estar presente, emocionalmente disponível e atento às necessidades físicas e emocionais dos filhos. Ela se baseia no respeito mútuo, na comunicação aberta e na criação de um ambiente seguro e acolhedor. Para pais com um histórico de trauma ou questões de apego, essa prática pode ser transformadora, mas também exige autoconhecimento e esforço para quebrar ciclos negativos. Para isso talvez seja importante o entendimento do conceito de holding (Winnicott) refere-se à capacidade do cuidador de sustentar física e emocionalmente a criança, proporcionando um ambiente suficientemente bom onde ela possa se desenvolver de forma saudável. Para Winnicott, essa sustentação vai além do cuidado físico; envolve a capacidade de conter as angústias e ansiedades da criança, oferecendo um porto seguro onde ela possa explorar o mundo e a si mesma sem medo de desintegração. No entanto, para pais com um histórico de trauma, essa tarefa pode ser especialmente desafiadora, pois suas próprias experiências de desamparo ou negligência podem dificultar a oferta de um holding consistente e confiável.


Pais que sofreram traumas muitas vezes carregam consigo marcas profundas, como dificuldades de regulação emocional, tendência à hipervigilância ou, ao contrário, ao distanciamento afetivo. Essas características podem interferir na capacidade de oferecer o holding necessário, pois a própria experiência de trauma pode ter comprometido sua sensação de segurança interna. Por exemplo, um pai que vivenciou abandono na infância pode, inconscientemente, projetar suas próprias inseguranças no relacionamento com o filho, alternando entre superproteção e distanciamento emocional. Ao estar consciente da sua própria história, da falha experimentada no holding, o pai ou a mãe são capazes de ir além na criação de seus filhos, e além disso ir à procura de uma reedição da falha de parentalidade experiênciada na sua vida.


Desafios da Criação com Apego para Pais com Histórico de Trauma


A criação com apego (Attachment Parenting) é um dos pilares da parentalidade consciente. Ela busca fortalecer o vínculo emocional entre pais e filhos, promovendo segurança e confiança. No entanto, para pais que têm questões relacionadas ao apego ansioso, inseguro, ambivalente ou desorganizado, essa prática pode ser especialmente difícil. Aqui estão alguns desafios comuns:

  1. Dificuldade em Estabelecer Vínculos Seguros: Pais com histórico de trauma podem ter medo de se conectar profundamente com seus filhos, por receio de repetir padrões negativos.

  2. Regulação Emocional: Lidar com as próprias emoções enquanto ajuda os filhos a lidar com as deles pode ser desafiador.

  3. Autocobrança: A pressão para ser um "pai ou mãe perfeito" pode levar à culpa e ao estresse.



Estratégias para uma Parentalidade Consciente e Equilibrada

1. Como Promover o Desenvolvimento Emocional dos Filhos

Regulação Emocional: Ensinando Crianças a Lidar com Emoções

  • Modelagem: Mostre aos seus filhos como você lida com suas próprias emoções. Fale sobre seus sentimentos e como os gerencia.

  • Validação: Reconheça e valide as emoções das crianças, mesmo que sejam negativas. Diga coisas como: "Eu entendo que você está bravo, e está tudo bem sentir isso."

  • Ferramentas Práticas: Ensine técnicas simples, como respirar fundo ou contar até dez, para ajudar as crianças a se acalmarem.

Autoestima Infantil: Construindo uma Autoimagem Positiva

  • Elogios Sinceros: Valorize o esforço, não apenas o resultado. Diga: "Eu adorei como você se esforçou para terminar essa tarefa!"

  • Autonomia: Permita que as crianças tomem decisões apropriadas para a idade, como escolher suas roupas ou brinquedos.

  • Evite Comparações: Cada criança é única. Evite comparar seus filhos com irmãos ou colegas.

Empatia e Habilidades Sociais: Ensinando a Se Colocar no Lugar do Outro

  • Exemplos do Dia a Dia: Use situações cotidianas para ensinar empatia. Por exemplo: "Como você acha que seu amigo se sentiu quando você compartilhou o brinquedo?"

  • Jogos e Brincadeiras: Brincadeiras de faz de conta podem ajudar as crianças a entender diferentes perspectivas.

  • Leitura de Histórias: Livros infantis que abordam emoções e relacionamentos são ótimos para ensinar empatia.

2. Como Fortalecer o Vínculo Familiar

Criação com Apego: Construindo Confiança e Segurança

  • Contato Físico: Abraços, carícias e colo são essenciais para criar um senso de segurança.

  • Resposta Consistente: Responda às necessidades dos seus filhos de forma previsível e amorosa. Isso ajuda a construir confiança.

  • Comunicação Aberta: Esteja disponível para ouvir e conversar, mesmo sobre assuntos difíceis.

Tempo de Qualidade: Aproveitando Momentos Significativos

  • Rotinas Especiais: Crie rituais diários, como ler uma história antes de dormir ou cozinhar juntos.

  • Presença Total: Dedique momentos do dia para estar 100% presente, sem distrações como celulares ou televisão.

  • Atividades Compartilhadas: Encontre hobbies que toda a família possa desfrutar, como passeios ao ar livre ou jogos de tabuleiro.

Presença Emocional: Estar Verdadeiramente Presente

  • Autocuidado: Cuide da sua própria saúde mental para estar emocionalmente disponível para seus filhos.

  • Mindfulness: Pratique técnicas de atenção plena para se conectar com o momento presente.

  • Compaixão por Si Mesmo: Reconheça que é humano e que errar faz parte do processo. Seja gentil consigo mesmo.

Dicas para Pais com Histórico de Trauma

  1. Busque Apoio Profissional: Terapia pode ajudar a processar traumas e desenvolver estratégias para uma parentalidade mais saudável.

  2. Trabalhe o Autoconhecimento: Entenda como seu histórico afeta sua parentalidade e busque quebrar ciclos negativos.

  3. Conecte-se com Outros Pais: Grupos de apoio ou comunidades online podem oferecer suporte e compartilhamento de experiências.


Conclusão: A Jornada da Parentalidade Consciente

A parentalidade consciente é uma jornada de aprendizado contínuo, especialmente para pais com um histórico de trauma ou questões de apego. Ao adotar estratégias como a criação com apego, a promoção do desenvolvimento emocional e o fortalecimento do vínculo familiar, você pode criar um ambiente de amor, respeito e segurança para seus filhos. Lembre-se de que não há pais perfeitos, mas pais presentes e dispostos a crescer junto com seus filhos já estão no caminho certo.


Se você se identificou com este artigo, compartilhe suas experiências nos comentários ou busque recursos adicionais, como livros, cursos e profissionais especializados, para continuar sua jornada de parentalidade consciente. Juntos, podemos criar um futuro mais saudável e feliz para nossas crianças.

Bibliografia

Winnicott, D. W.

  • "A Criança e o Seu Mundo" (1965)Um clássico que explora o desenvolvimento emocional da criança e a importância do ambiente facilitador.

  • "O Brincar e a Realidade" (1971)Aborda o papel do brincar no desenvolvimento psíquico e a noção de "espaço potencial".

  • "Da Pediatria à Psicanálise" (1958)Reúne textos que destacam a transição de Winnicott da pediatria para a psicanálise, incluindo reflexões sobre o holding.

Bowlby, John

  • "Apego e Perda" (Trilogia: 1969, 1973, 1980)Fundamentos da teoria do apego, essencial para entender os vínculos entre pais e filhos.

  • "Uma Base Segura: Aplicações Clínicas da Teoria do Apego" (1988)Explora como o apego influencia o desenvolvimento emocional e as relações ao longo da vida.

Siegel, Daniel J.

  • "Parentalidade Consciente: Como Criar uma Conexão Emocional com Seu Filho" (2014)Aborda a neurociência das relações parentais e estratégias para uma criação mais consciente.

  • "O Cérebro da Criança: 12 Estratégias Revolucionárias para Nutrir a Mente em Desenvolvimento do Seu Filho" (2011)Oferece insights sobre como o cérebro infantil se desenvolve e como os pais podem apoiar esse processo.

Karen, Robert

  • "O Vínculo Afetivo: A Teoria do Apego e as Relações Contemporâneas" (1998)Uma introdução acessível e profunda à teoria do apego e suas implicações para a parentalidade.

Van der Kolk, Bessel

  • "O Corpo Guarda as Marcas: Cérebro, Mente e Corpo na Superação do Trauma" (2014)Explora os efeitos do trauma no corpo e na mente, com insights valiosos para pais que lidam com traumas geracionais.

Mate, Gabor

  • "Quando o Corpo Diz Não: O Custo do Estresse Oculto" (2003)Discute como o estresse e o trauma não resolvido afetam a saúde física e emocional.

  • "Mantendo os Filhos no Caminho Certo: Como Ajudar Seus Filhos a Prosperar em um Mundo Difícil" (2019)Focado em estratégias para criar filhos emocionalmente resilientes.

Neufeld, Gordon & Maté, Gabor

  • "Segurem Seus Filhos: Por Que os Pais Precisam Ser Mais que Colegas" (2004)Defende a importância do vínculo emocional entre pais e filhos em um mundo cada vez mais desconectado.

Miller, Alice

  • "O Drama da Criança Bem-Dotada: A Busca pelo Verdadeiro Self" (1979)Explora como as experiências da infância moldam a personalidade e como os traumas podem ser transmitidos entre gerações.

  • "Por Sua Própria Boa Sorte: Raízes da Violência na Educação da Criança" (1980)Analisa os efeitos negativos de práticas educacionais repressivas.

Gerhardt, Sue

  • "Por Que o Amor é Importante: Como o Afeto Molda o Cérebro do Bebê" (2004)Examina como as experiências emocionais nos primeiros anos de vida influenciam o desenvolvimento cerebral.

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  • "Parentalidade com Apego: Princípios e Práticas para Criar Conexões Seguras e Duradouras" (2009)Oferece estratégias práticas para fortalecer o vínculo entre pais e filhos.

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  • "Trauma-Proofing Your Kids: A Parent's Guide for Instilling Confidence, Joy and Resilience" (2008)Focado em ajudar os pais a criar filhos resilientes e capazes de lidar com adversidades.

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  • "Apego e Psicopatologia: A Perspectiva da Mentalização" (2007)Explora como a capacidade de mentalizar (entender estados mentais próprios e dos outros) influencia o desenvolvimento emocional.

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  • "The Power of Showing Up: How Parental Presence Shapes Who Our Kids Become and How Their Brains Get Wired" (2020)Discute a importância da presença emocional dos pais no desenvolvimento infantil.

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  • "O Menino que Foi Criado como Cachorro: E Outras Histórias de um Psiquiatra Infantil" (2007)Relatos de casos que ilustram os efeitos do trauma no desenvolvimento infantil e a importância do cuidado terapêutico.

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  • "As Necessidades Essenciais das Crianças: O Que Toda Criança Precisa para Crescer, Aprender e se Desenvolver" (2000)Um guia prático para entender e atender às necessidades emocionais e físicas das crianças.


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Psicóloga Bruna Lima

CRP 06/130409

Bruna Lima Psicóloga Clínica

Psicblima@gmail.com

+55 11 99411-3832

Bruna Lima é psicóloga clínica com 5 estrelas no Google. Graduou-se em Psicologia pelo Centro Universitário FMU  e tem 10 anos de experiência em psicologia clínica.

Cadastrada E-psi, atende on-line a brasileiros expatriados há 10 anos.

Possui três especializações/certificações em psicanálise pelas instituições:

Bruna também é colunista no AllPopStuff e tem um canal no YouTube.

Com sua sólida formação, Bruna utiliza abordagens psicanalíticas personalizadas para ajudar cada paciente adulto.

Oferece atendimento online e presencial. Entre em contato para agendar.

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